A matéria na íntegra está disponível aqui."Levando em conta o lugar onde este artigo será publicado e minha própria falta de sofisticação culinária, tenho curiosidade de saber se o leitor se identifica com quaisquer dessas reações, confissões e desconfortos. Também não quero soar excessivo ou moralista, quando na verdade o que sinto é confusão. Perguntas aos leitores de Gourmet que apreciam refeições bem-feitas e bem-apresentadas envolvendo carne de vaca, vitela, cordeiro, porco, frango, lagosta etc.: Vocês pensam muito sobre a (possível) condição moral e o (provável) sofrimento dos animais envolvidos? Se pensam, quais convicções éticas desenvolveram para se permitir não apenas comer, mas também saborear e desfrutar de iguarias à base de carnes de animais (pois o desfrute refinado, em contraste com a mera ingestão, é naturalmente a razão de ser da gastronomia)? Se, por outro lado, vocês não dão a menor bola para confusões ou convicções e acham coisas como o parágrafo anterior puro umbiguismo sem sentido, o que em seu íntimo faz vocês sentirem que não existe realmente problema algum em desconsiderar de forma peremptória toda essa questão? Isto é, a recusa em pensar nessas coisas seria o produto de um raciocínio ou na verdade vocês apenas não querem pensar sobre o assunto? E se for isso mesmo, por que não? Vocês chegam a pensar, mesmo à toa, sobre as possíveis razões dessa relutância em pensar no assunto? Não estou tentando importunar ninguém – minha curiosidade é genuína. Afinal de contas, ser muito consciente, atencioso e cuidadoso a respeito do que se come e de todo o contexto englobante não é parte do que distingue um verdadeiro gourmet? Ou toda a atenção e a sensibilidade extraordinárias do gourmet devem se limitar ao sensorial? Tudo poderia realmente ser resumido a uma questão de sabor e apresentação?Estas últimas indagações, todavia, ainda que sinceras, obviamente envolvem questões muito maiores e mais abstratas a respeito das conexões (caso existentes) entre estética e moralidade – sobre o que realmente significa o adjetivo em uma expressão como “A Revista da Boa Vida” –, e essas questões levam diretamente a águas tão profundas e traiçoeiras que talvez seja melhor encerrar por aqui a discussão pública. Existem limites mesmo para o que as pessoas interessadas podem perguntar umas às outras. J
Seguindo este mesmo raciocínio, segue aqui o link para o novo curta metragem promovido pelo Instituto Nina Rosa, cujo título é "A engrenagem". Vale a pena assistir.
Ainda hoje, durante almoço com os queridos engajados na causa da ONG Oitovidas. estávamos comentando sobre as diferentes opções de dieta e as questões envolvidas na tomada de decisão de comer ou não carne.
Quem de nós ousaria fazer estas perguntas a si mesmo? E quantos desta minoria ainda sim manteria sua consciência 'em paz'? Eu, definitivamente, optei por ter minha consciência mais tranquila na hora das refeições. E você? Pense nisso.