domingo, 11 de novembro de 2012

Pensemos na lagosta. E em todos os demais seres que vão parar em nosso prato

Queridos, depois de tanto tempo afastada deste blog, por conta de falta de inspiração e correria (que às vezes de completam), venho compartilhar uma matéria publicada na revista Piauí - Edição de Setembro de 2012, à qual tive acesso hoje. Confesso que não li o texto na íntegra ainda (sim, é bem longo), mas dando aquela olhada rápida - que alguém uma vez se referiu como "leitura diagonal" (?) - concordei em gênero, número e grau com o autor, que levanta questões bastante delicadas e que muitos de nós (assim como eu, até que decidi abolir certos 'ingredientes' da minha culinária) prefere não lembrar na hora da refeição. Segue um trecho da matéria (o mais pungente que eu li até agora).
 
"Levando em conta o lugar onde este artigo será publicado e minha própria falta de sofisticação culinária, tenho curiosidade de saber se o leitor se identifica com quaisquer dessas reações, confissões e desconfortos. Também não quero soar excessivo ou moralista, quando na verdade o que sinto é confusão. Perguntas aos leitores de Gourmet que apreciam refeições bem-feitas e bem-apresentadas envolvendo carne de vaca, vitela, cordeiro, porco, frango, lagosta etc.: Vocês pensam muito sobre a (possível) condição moral e o (provável) sofrimento dos animais envolvidos? Se pensam, quais convicções éticas desenvolveram para se permitir não apenas comer, mas também saborear e desfrutar de iguarias à base de carnes de animais (pois o desfrute refinado, em contraste com a mera ingestão, é naturalmente a razão de ser da gastronomia)? Se, por outro lado, vocês não dão a menor bola para confusões ou convicções e acham coisas como o parágrafo anterior puro umbiguismo sem sentido, o que em seu íntimo faz vocês sentirem que não existe realmente problema algum em desconsiderar de forma peremptória toda essa questão? Isto é, a recusa em pensar nessas coisas seria o produto de um raciocínio ou na verdade vocês apenas não querem pensar sobre o assunto? E se for isso mesmo, por que não? Vocês chegam a pensar, mesmo à toa, sobre as possíveis razões dessa relutância em pensar no assunto? Não estou tentando importunar ninguém – minha curiosidade é genuína. Afinal de contas, ser muito consciente, atencioso e cuidadoso a respeito do que se come e de todo o contexto englobante não é parte do que distingue um verdadeiro gourmet? Ou toda a atenção e a sensibilidade extraordinárias do gourmet devem se limitar ao sensorial? Tudo poderia realmente ser resumido a uma questão de sabor e apresentação?
Estas últimas indagações, todavia, ainda que sinceras, obviamente envolvem questões muito maiores e mais abstratas a respeito das conexões (caso existentes) entre estética e moralidade – sobre o que realmente significa o adjetivo em uma expressão como “A Revista da Boa Vida” –, e essas questões levam diretamente a águas tão profundas e traiçoeiras que talvez seja melhor encerrar por aqui a discussão pública. Existem limites mesmo para o que as pessoas interessadas podem perguntar umas às outras. J
 
A matéria na íntegra está disponível aqui.

Seguindo este mesmo raciocínio, segue aqui o link para o novo curta metragem promovido pelo Instituto Nina Rosa, cujo título é "A engrenagem". Vale a pena assistir.


Ainda hoje, durante almoço com os queridos engajados na causa da ONG Oitovidas. estávamos comentando sobre as diferentes opções de dieta e as questões envolvidas na tomada de decisão de comer ou não carne.

Quem de nós ousaria fazer estas perguntas a si mesmo? E quantos desta minoria ainda sim manteria sua consciência 'em paz'? Eu, definitivamente, optei por ter minha consciência mais tranquila na hora das refeições. E você? Pense nisso.