domingo, 18 de setembro de 2011

Dahl de lentilha

Para esta preparação, me inspirei na receita de "Gujarati Urad Dahl", extraída do livro  "Gosto Superior - Receitas Vegetarianas da Índia". Antes da receita original, apenas um parêntese para traduzir o que é o "Urad dahl". Segundo o próprio livro, "a palavra dahl se refere aos grãos provenientes das leguminosas das quais foram retiradas as vagens e em seguida partidos ao meio. (...) Conhecida entre nós como lentilha, de cor acinzentada escura (...) o Urad dahl é mais rico em proteínas do que a carne. Não deve ser consumido mais do que uma vez por semana." (p. 24).

Vamos a ela:

            GUJARATI URAD DAHL
            Dahl com iogurte


            Preparação e cozimento: cerca de 1 hora.

200 gramas de urad dahl escolhido e lavado (1 xicaras e 1/2)
2 litros de água (8 xfcaras)
250 gramas de iogurte (1 xícara)
1 colher de sopa de ghi
1colher de sopa de açúcar
1 colher de chá de sementes de mostarda preta
1 pitada de cúrcuma
2 pimentas fortes amassadas
folhas de louro (ou de nima)
sal
rodelas de limão

Numa panela grande, ferva a água com o dahl, a cúrcuma, o louro e o sal. Tampe 3/4 da panela e deixe ferver ate que o dahl esteja macio (aproximadamente 45 minutos). Pode-se, também, deixar de molho algumas horas antes de cozinhar, economizando tempo. Quando estiver quase cozido, aqueça o ghi numa panela e doure a mostarda (tampe a panela, pois as sementes saltam) e, em seguida, a pimenta. Junte esta massala ao dahl e acrescente o iogurte e o açúcar. Misture tudo cuidadosamente. Se achar que o dahl está muito grosso, junte urn pouco mais de água quente e deixe ferver por mais alguns minutos. Para acompanhar este dahl, recomenda-se legumes, pão e arroz simples. Sirva em tigelinhas indi­viduais enfeitadas com uma rodela de limão.

(Fonte: "Gosto Superior - Receitas Vegetarianas da Índia", p. 86 - Fundação Bhaktivedanta, São Paulo, 1992)


Para esta receita, segui as quantidades recomendadas da lentilha e da água, para evitar que a consistência pudesse ser alterada. Escolhi os grãos, lavei e deixei de molho por uns 30 minutos. Coloquei a água para ferver e fui preparando os temperos (nesta parte fiz tudo do meu jeito, pois não tinha nenhum dos ingredientes solicitados pela receita original). Então refoguei alho espremido e cebola em um pouco de manteiga. Depois que estava no ponto, fui acrescentando as especiarias que uso habitualmente: canela, curry, pimenta do reino, pimenta branca, páprica doce e pimenta-calabresa. Desta última, só usei umas 4 sementinhas! Afinal, o dahl é indiano, não mexicano! =] Também tinha três tomates e um pimentão-vermelho à disposição (desse só usei metade). Retirei as sementes, piquei tudo e acrescentei aos temperos - primeiro o pimentão e depois o tomate.

Depois que os vermelhinhos estavam no ponto, acrescentei a lentilha - previamente escorrida - e refoguei bem. Acrescentei a água fervente e um pouco de sal. Tampei a panela e deixei cozinhando em fogo baixo, mexendo vez ou outra. Quando a lentilha estava macia, acertei o sal e deixei a panela semi-tampada. Confesso a vocês que por um momento achei que não fosse dar certo... Achei que a consistência não estava legal... "Será que deveria ter posto a água aos poucos?" Mas não desanimei! Mexia de vez em quando, por vezes deixava a panela completamente destampada e, aos poucos, o dahl foi encorpando. Quando achei que já estaria bom, desliguei o fogo e deixei esfriar um pouco, para ver como ficaria a consistência. E ficou uma beleza mesmo! 
Me deliciei com esta fumegante caneca deste dahl, que aqueceu minha barriguinha e minha alma...

Batatas Gratinadas

Na semana passada, dei uma olhada na geladeira e vi que (ainda) havia algumas batatas. Aí me lembrei da receita de  "Alu Gouranga" (batatas gratinadas) do livro "Gosto Superior - Receitas Vegetarianas da Índia", que usei como base. A receita, extraída do livro, é a seguinte:

ALU GOURANGA
Batatas gratinadas
         Preparação e cozimento: 45 minutos.

10 batatas
500 gramas de creme de leite fresco
100 gramas de manteiga
200 gramas de panir fresco
2 colheres de sopa de leite em pó
25 gramas de coentro fresco picado
3 colheres de sopa de coentro em pó
1 pitada de assafétida
4 colheres de chá de sal

Descasque, lave e corte as batatas em fatias finas. Unte uma forma refratária com manteiga e forre o fundo com as fatias de batatas. Salpique levemente com assafétida e coentro fresco em pó. Em seguida, cubra com uma camada de panir em migalhas, manteiga em pedacinhos e creme de leite. Repita a operação mais duas vezes. Termine com o leite em pó, cubra com uma folha de alumínio e leve ao forno quente por 30 minutos. 10 minutos antes de retirar, remova a folha de alumínio para que se forme uma crosta dourada. Sirva quente.

(Fonte: "Gosto Superior - Receitas Vegetarianas da Índia", p. 86 - Fundação Bhaktivedanta, São Paulo, 1992)


Para simplificar minha preparação quanto aos temperos (já que não tenho todos eles em casa) e ao modo de preparo (para ser mais rápido). Descasquei as batatas, cortei-as em pedaços pequenos e cozinhei-as no microondas, numa daquelas cestas para cozimento a vapor (por pouco tempo, para que elas ainda ficassem um pouco durinhas - já que elas iriam ao forno, o restante do cozimento seria lá).

 Enquanto isso, em uma panela, derreti um pouco de manteiga e refoguei cebola picadinha, alecrim, orégano e curry (não o 'verdadeiro', mas a mistura de temperos que conhecemos aqui como curry). Também acrescentei uma pitada de pimenta do reino e páprica doce. Vale aqui ressaltar que, quando preparo minhas refeições, não coloco todos os ingredientes ao mesmo tempo. Acrescento o primeiro e, só depois de sentir seu delicioso aroma perfumar minha cozinha, coloco o seguinte. E tudo em fogo baixo. Não sei se esta é a maneira 'indicada' pelos chefs, mas para mim é a mais intuitiva e gostosa. Isso é o que me importa!

Pois bem... Quando senti que os temperos estavam no ponto, acrescentei um pouquinho de água e deixei levantar fervura. Depois, acrescentei uma caixinha de creme de leite, misturei bem  e adicionei sal. Acrescentei as batatas, deixei aquecer e desliguei o fogo assim que começou a borbulhar. Passei esta mistura para um refratário pequeno, coloquei bastante queijo parmesão  (ralado na hora) por cima, cobri com papel alumínio e levei ao fogo por uns 15 minutos, só para derreter o queijo. Depois disso, retirei o papel, desliguei o forno e deixei lá por uns cinco minutinhos, só para "secar" um pouco.

Servi acompanhada da minha receita básica de arroz (uso o tipo parboilizado), preparado 'como mamãe me ensinou', ou seja, temperado só com alho e cebola. E nada mais. Ficou maravilhoso.

Gosto superior

Depois de reafirmar minha decisão ao adotar uma dieta vegetariana, as questões agora são menos 'existenciais' do que práticas. Afinal, é possível preparar refeições equilibradas sem carne? É possível preparar refeições saborosas sem carne? Posso lhes afirmar que a resposta para estas duas perguntas é um retumbante SIM!!!  Ainda mais depois de conhecer o +Ra, recém-inaugurado no Templo Hare Krishna na Tijuca, onde eu e minha amiga Teteca apreciamos as deliciosas refeições lacto-vegetarianas servidas aos finais de semana. A comida lá é maravilhosa e o ambiente é profundamente acolhedor. Após a refeição, a sensação é de plenitude e paz de espírito.

Tendo em vista que eu confio que o destino está sempre a nosso favor e acredito na máxima "quando o discípulo está pronto, o mestre se apresenta", em minha primeira visita ao "+RadheShyamRefeitorio Vegan-lactovegetariano", após o almoço conhecemos o bazar do templo, onde está à venda uma variedade de produtos. Lá encontrei um exemplar do livro "Gosto Superior - Receitas Vegetarianas da Índia", publicado na década de 90 pela Fundação Bhaktivedanta. Não pensei duas vezes em adquiri-lo! E, além de me deliciar com o maravilhoso cheiro de incenso que suas páginas exalavam, tive a certeza de que ele seria meu roteiro nesta nova viagem de descobertas gastronômicas e interiores.

Folheando (ou melhor, devorando) o livro, pude comprovar o quanto a culinária vegetariana (sobretudo a indiana) é rica e saborosa. Cheia de detalhes - é um verdadeiro ritual - uma vez que "comer é também um ato de devoção". Sempre me senti atraída pela cultura indiana, principalmente os aspectos sobre o hinduísmo e a culinária. E também adoro caprichar nos temperos e especiarias, tal como a comida indiana pede. Não poderia ser melhor!

Então, a ideia é que eu possa experimentar as receitas deste livro - dando uma 'abrasileirada' quando necessário, visto que provavelmente será necessário fazer adaptações. Ele será minha inspiração para criar, a partir do que me der na telha e do que eu tiver na geladeira! =]  Sendo assim, pretendo compartilhar neste blog minhas experiências culinárias baseadas numa dieta livre de carnes. Reunirei aqui as receitas vegetarianas que eu experimentar, testar, inventar, ou encontrar por aí. Eventualmente, também indicarei restaurantes e estabelecimentos nos quais se encontre uma saborosa comida vegetariana - tais como o "Radhe Shyam".

Este é sobretudo meu diário de bordo numa jornada que vai muito além da cozinha. Espero que ele possa inspirar outras pessoas a explorarem o que a gastronomia vegetariana tem de melhor a nos oferecer. Repare que pouco irei me referir às quantidades quando relatar adaptações de receitas, pois geralmente utilizo a intuição (ou 'olhômetro', se assim preferir chamar...) quando invento alguma coisa. Então, não se aborreça se não descrevo todas as minhas receitas nos mínimos detalhes... Não pretendo publicar aqui um 'protocolo', mas sim relatar a experiência criativa. Convido você a 'repetir intuitivamente' minhas receitas. Ou, quem sabe, 'reinventar minhas invenções'. Do seu jeito. Que tal?

Comer com a boca, os olhos... e o coração

Adoro comer! E talvez por não me preocupar muito com a quantidade de calorias em minhas refeições, nem com seus possíveis efeitos sobre (literalmente) a balança, eu como sem culpa. No entanto, ao comer carne, me vem a (indigesta) lembrança: o que está em meu prato já foi um animal. Neste momento, o que pesa é minha consciência. Principalmente por que adoro os animais e os considero no mesmo patamar que (nós) os humanos. Há alguns anos esta questão paradoxal - por que comer alguns e amar outros? - me fez refletir. Me deparei com um intenso questionamento. Afinal de contas, por que como carne? Comer carne é realmente uma necessidade para mim? Cheguei à conclusão de que eu, definitivamente, não sou uma pessoa carnívora. Acho até que o hábito de comer carne um impulso ancestral, reflexo da herança do tempo das cavernas. É apenas um desejo, motivado pelo prazer, mas não uma necessidade real. Neste contexto, cito aqui Epicuro:

"O desejo é a causa de todos os males."

"Nenhum prazer é em si um mal, porém certas coisas capazes de engendrar prazeres
 trazem consigo maior número de males que de prazeres."

Ao iniciar meu processo de transição para uma dieta livre de carnes, cada vez mais percebi que este item não faz falta no meu prato. Há algum tempo, vaca, frango e porco já não fazem parte do meu cardápio e posso dizer que hoje me sinto muito melhor - fisiologica e psicologicamente falando. Neste ponto alguns certamente irão me criticar. Afinal, peixes e frutos do mar também são animais, ora bolas! Sim, e creio que daqui a algum tempo eu também não os coma. Mas, por ora, minha consciência está mais tranquila (ou menos perturbada) pelo fato de eu saber que outros animais também se alimentam de peixes e frutos do mar. Por outro lado, qual outra espécie além da nossa tem vacas, porcos e galinhas em sua cadeia alimentar?

Confesso que minha decisão interior recebeu uma significativa ajuda externa. Visitando o site da ONG PETA, assinei o “Pledge to Be Veg for 30 Days”. A proposta é a de que num período de 30 dias a pessoa adote uma dieta vegetariana/vegana, iniciando assim o período de transição para uma dieta livre de carnes. Periodicamente recebia emails de apoio, com receitas e depoimentos,  entre outras coisas legais. Paralelamente, recebi outros informativos da PETA, que incluem os relatos dos horríveis maus tratos infligidos aos animais, sobretudo àqueles criados para abate. Confesso a vocês que não consigo assistir a conteúdos deste tipo, tais como "Meet your meat", "A carne é fraca" e "Earthlings". Acho que eu ficaria traumatizada para o resto da vida. Mas estes informativos chocantes me fizeram refletir sobre o que realmente me impede de encarar esta triste realidade. Seria meu estômago fraco ou minha consciência pesada? Assim, minha decisão foi fortalecida a cada dia.*

Neste meio tempo, outro fato extremamente relevante me fez adotar definitivamente a gastronomia vegetariana... Minha querida gata Margot - que não é apenas um animal de estimação, mas sim um membro da família e a quem considero minha 'companheira de jornada' - repentinamente ficou adoentada. Fiquei profundamente angustiada e preocupada ao ver que seu olhar me dizia: "Não tô legal... Me ajude, por favor." Foram alguns dias em que meu coração ficou apertado, com receio de que ela não se recuperasse. Felizmente, agora ela está 100%! E aqueles dias me fizeram reavaliar como os animais são importantes em minha vida, e o quanto ela - e todos os animais - são capazes de sofrer, sentir dor (não apenas a física, mas também a emocional), angústia e medo. Tal como nós.

"Em meu pensamento, a vida de um cordeiro não é menos importante
 que a vida de um ser humano." (Mahatma Gandhi)

*Nota de rodapé 1: Embora criticada por outras ONGs, quanto à minha experiência pessoal posso dizer que a PETA cumpriu com seu papel, provocando a reflexão - mesmo que uma forma mais 'agressiva'. Quanto aos outros pontos, não pretendo aqui entrar em detalhes ou fomentar debates, pois não tenho o devido embasamento para tal.