Adoro comer! E talvez por não me preocupar muito com a quantidade de calorias em minhas refeições, nem com seus possíveis efeitos sobre (literalmente) a balança, eu como sem culpa. No entanto, ao comer carne, me vem a (indigesta) lembrança: o que está em meu prato já foi um animal. Neste momento, o que pesa é minha consciência. Principalmente por que adoro os animais e os considero no mesmo patamar que (nós) os humanos. Há alguns anos esta questão paradoxal - por que comer alguns e amar outros? - me fez refletir. Me deparei com um intenso questionamento. Afinal de contas, por que como carne? Comer carne é realmente uma necessidade para mim? Cheguei à conclusão de que eu, definitivamente, não sou uma pessoa carnívora. Acho até que o hábito de comer carne um impulso ancestral, reflexo da herança do tempo das cavernas. É apenas um desejo, motivado pelo prazer, mas não uma necessidade real. Neste contexto, cito aqui Epicuro:
"O desejo é a causa de todos os males."
"Nenhum prazer é em si um mal, porém certas coisas capazes de engendrar prazeres
trazem consigo maior número de males que de prazeres."
Ao iniciar meu processo de transição para uma dieta livre de carnes, cada vez mais percebi que este item não faz falta no meu prato. Há algum tempo, vaca, frango e porco já não fazem parte do meu cardápio e posso dizer que hoje me sinto muito melhor - fisiologica e psicologicamente falando. Neste ponto alguns certamente irão me criticar. Afinal, peixes e frutos do mar também são animais, ora bolas! Sim, e creio que daqui a algum tempo eu também não os coma. Mas, por ora, minha consciência está mais tranquila (ou menos perturbada) pelo fato de eu saber que outros animais também se alimentam de peixes e frutos do mar. Por outro lado, qual outra espécie além da nossa tem vacas, porcos e galinhas em sua cadeia alimentar?
Confesso que minha decisão interior recebeu uma significativa ajuda externa. Visitando o site da ONG PETA, assinei o “Pledge to Be Veg for 30 Days”. A proposta é a de que num período de 30 dias a pessoa adote uma dieta vegetariana/vegana, iniciando assim o período de transição para uma dieta livre de carnes. Periodicamente recebia emails de apoio, com receitas e depoimentos, entre outras coisas legais. Paralelamente, recebi outros informativos da PETA, que incluem os relatos dos horríveis maus tratos infligidos aos animais, sobretudo àqueles criados para abate. Confesso a vocês que não consigo assistir a conteúdos deste tipo, tais como "Meet your meat", "A carne é fraca" e "Earthlings". Acho que eu ficaria traumatizada para o resto da vida. Mas estes informativos chocantes me fizeram refletir sobre o que realmente me impede de encarar esta triste realidade. Seria meu estômago fraco ou minha consciência pesada? Assim, minha decisão foi fortalecida a cada dia.*
Neste meio tempo, outro fato extremamente relevante me fez adotar definitivamente a gastronomia vegetariana... Minha querida gata Margot - que não é apenas um animal de estimação, mas sim um membro da família e a quem considero minha 'companheira de jornada' - repentinamente ficou adoentada. Fiquei profundamente angustiada e preocupada ao ver que seu olhar me dizia: "Não tô legal... Me ajude, por favor." Foram alguns dias em que meu coração ficou apertado, com receio de que ela não se recuperasse. Felizmente, agora ela está 100%! E aqueles dias me fizeram reavaliar como os animais são importantes em minha vida, e o quanto ela - e todos os animais - são capazes de sofrer, sentir dor (não apenas a física, mas também a emocional), angústia e medo. Tal como nós.
"Em meu pensamento, a vida de um cordeiro não é menos importante
que a vida de um ser humano." (Mahatma Gandhi)
*Nota de rodapé 1: Embora criticada por outras ONGs, quanto à minha experiência pessoal posso dizer que a PETA cumpriu com seu papel, provocando a reflexão - mesmo que uma forma mais 'agressiva'. Quanto aos outros pontos, não pretendo aqui entrar em detalhes ou fomentar debates, pois não tenho o devido embasamento para tal.
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